quinta-feira, 8 de abril de 2010

Os Ombros Suportam o Mundo (Drummond)



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.

Tempo de absoluta depuração.

Tempo em que não se diz mais: meu amor.

Porque o amor resultou inútil.

E os olhos não choram.

E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.

És todo certeza, já não sabes sofrer.

E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?

Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.





segunda-feira, 5 de abril de 2010

Perfeição


Quem demanda a perfeiçao

parece ser imperfeito.

Embora a sua oculta plenitude
plenifique todas as vacuidades.

Quem possui verdadeira plenitude
É inesgotavel
Por mais que se esgote.

Quem anda direito,
parece torto.

Grande habilidade parece inabilidade.
Arte genuína
parece mediocridade.

Movimento supera o frio.

Quietação vence o calor.

O que é puro e verdadeiro
sempre orienta o mundo.